Sindicalistas do Amazonas, Roraima e Rondônia estão puxando um movimento popular em defesa da BR-319, rodovia federal de 885 quilômetros, construída nos anos 1960/70, que liga Manaus/AM a Porto Velho/RO. Entre outras ações, sairão em comitiva de Manaus dia 2 de novembro, rumo a Brasília, onde pretendem falar com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o ministro Renan Filho (Transportes) e até com o presidente Lula, se possível. Será a “Caravana pela reconstrução da BR-319 já!”
“É uma via absolutamente vital para a nossa conexão terrestre com o restante do País, mas que há décadas se encontra em péssima situação principalmente no chamado 'trecho do meio', uma extensão de aproximadamente 250 quilômetros entre o km 200 e o km 450, que atravessa os territórios dos municípios de Borba, Beruri, Manicoré, Tapauá, Canutama e Humaitá, todos no Amazonas”, argumenta Carlos Lacerda, um dos líderes do movimento e coordenador do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) na Região Norte.
Independente das possíveis audiências nos ministérios, a Caravana já tem encontro marcado com a Frente Parlamentar pela BR-319, que envolve 192 deputados federais de todos os estados brasileiros e é coordenada pelo amazonense Fausto Júnior (União). “Nessa audiência, que será às 15h do dia 8, na Câmara Federal, pretendemos discutir acertar uma agenda prática e objetiva com os deputados junto ao Palácio do Planalto e aos ministérios e órgãos ligados diretamente a essa questão, do licenciamento ambiental aos prazos de execução das obras”, explica Vicente Filizola, presidente da Força Sindical Amazonas.
A ministra Marina Silva, segundo os sindicalistas, já é vista no Amazonas como uma inimiga declarada da BR-319 porque ela tem uma posição abertamente contrária ao licenciamento das obras no trecho do meio da BR-319 e não faz a menor questão de esconder isso, sob o argumento de que uma vez recuperada a rodovia sujeitará aquela área florestal ao desmatamento, o que é uma falácia.
“Por isso queremos deixar claro que o argumento quanto aos possíveis danos ambientais que adviriam da rodovia trafegável são fantasiosos e não têm o menor cabimento. A BR-319 já existe há 5 décadas e se causou algum impacto ambiental, isso ficou em um passado muito distante”, afirma Lacerda.
Para ele, o impacto negativo que essa rodovia causa é agora pois, nas condições em que está, penaliza nada menos que 4 milhões de brasileiros habitantes de Roraima, do Amazonas e de Rondônia diretamente, e transversalmente de todos os demais estados nortistas.
Os sindicalistas lembram que dois eventos terrivelmente danosos e dolorosos para os amazonenses confirmam o quanto esta rodovia é necessária: a crise do oxigênio em Manaus, no auge da segunda onda da pandemia da Covid-19 (janeiro/fevereiro de 2021), quando centenas de pessoas morreram literalmente por falta de ar, e agora, nessa seca recorde que atinge o nosso Estado, trazendo com ela uma crise geral de abastecimento porque os rios estão praticamente intrafegáveis e a rodovia encontra-se imprestável para o transporte de cargas, levando fábricas do Polo Industrial a paralisarem atividades por falta de insumos para suas linhas de produção, comércios a baixarem as portas por não ter mercadorias e milhares de famílias a passarem fome porque não têm alimentos para levar às mesas.
Interesses ocultos
Nas manifestações que têm feito vias redes sociais, em audiências públicas e encontros com segmentos classistas os participantes desse movimento sindical pró-BR-319 batem sempre na tecla de que em nenhum lugar do mundo uma rodovia trafegável é sinônimo de ameaça ao meio ambiente. Ao contrário, estradas trafegáveis propiciam a montagem de estruturas de fiscalização eficientes e fortes.
“A BR-319, como está, só interessa aos criminosos: grileiros, exploradores de madeira ilegal, garimpeiros, narcotraficantes e daí por diante. Então, permitir que a rodovia continuem nessas péssimas condições e se deteriorando cada vez mais é o mesmo que incentivar todo tipo de atividade ilegal no trecho do meio, livre de fiscalização e da presença do poder público”, dispara Deive Couto, sindicalista da área de hotelaria e hospitalidade.
Diálogos produtivos
Na audiência com a ministra Marina Silva o movimento espera um diálogo franco que, lhes dê a oportunidade de expor os fatos por uma outra ótica além da puramente ambiental: a humanitária, porque a BR-319 tem, como afirmam, uma função social extremamente relevante e a plena condição de trafegabilidade dessa via é uma questão de direito constitucional dos amazonenses e roraimenses, em particular, e dos nortistas, de modo geral.
Já no encontro com o ministro Renan Filho, querem agradecer pelas demonstrações públicas de boa vontade em relação à necessária recuperação da BR-319 e pedir agilidade nos procedimentos legais que envolvem as obras no trecho do meio, o chamado meião.
“E na audiência com o presidente Lula, queremos demonstrar o quanto esperamos dele na condução do País e especificamente na questão da BR-319, porque ele tem uma visão humanista e humanitária, e compreende o que significa para nós viver sem a cidadania plena”, finaliza Carlos Lacerda.
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