Vista de ponto de alagamento na Praça Garibaldi, na Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS)
A consciência ecológica cresceu nos anos 70, exatamente quando estava começando a carreira de repórter. E vivia confuso entre o discurso dos que alertavam para a preservação da natureza e os líderes políticos e das forças produtivas acusando-os de loucos, “ecochatos”, que só queriam impedir o progresso, o aumento da arrecadação e a geração de empregos. Naquela época eu já suspeitava – e hoje tenho certeza – de que são os loucos que mudam o mundo.
Os três mais conhecidos, pelo menos os que mais entrevistava, eram o dentista Hugo Werneck, o biólogo Célio Vale e o professor Apolo Heringer Lisboa. Dr. Hugo era polido, falava suavemente; Célio, tímido, quase sussurrava; Apolo sempre foi e continua sendo mais enfático. Criou o Projeto Manuelzão, um dos maiores projetos de extensão da UFMG e continua sonhando.
Agora, por exemplo, está avisando onde estarão as inundações do futuro: “Primeiro cobrimos o córrego das Piteiras, agora estamos enchendo de concreto as encostas da Raja Gabaglia de um lado e do Jardim América do outro, então, para onde irão as águas da chuva forte?”.
Além do trio, mais “experiente”, vejo esforço contínuo nos últimos anos da Maria Tereza Corujo, a “Teca”. E sinto que tragédias como a de Mariana, a de Brumadinho e agora a de Porto Alegre não seriam tão devastadoras se, pelo menos, respeitassem essas pessoas.
Aliás, lá, no Rio Grande do Sul, após fortes enchentes em 1974, José Lutzemberg, outro advertiu que a retirada da proteção do solo e a ocupação desordenada das margens de rios trariam consequências ainda piores:
“Se as atitudes dessa pobre gente atestam a miséria de sua existência, a repetição das calamidades provocadas pelas enchentes confirma o que há tempo já se podia prever. Se hoje os estragos são imensos e os mortos se contam às centenas, não tardará o dia em que os flagelados e os mortos totalizarão milhões. Somos incapazes de aprender com nossos erros. As advertências dramáticas da natureza de nada valem. Insistimos no consumo de nosso futuro”.
Hugo e Lutzenberger já estão no andar de cima. Ouçamos Apolo e Célio.
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